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Daniel Ortega como Hamlet na montagem da Cia Artehúmus

Como é bom assistir a um espetáculo em que o entusiasmo e o vigor do grupo de atores e equipe técnica transparecem, envolvendo a todos da platéia! Isso acontece com a encenação da Cia Artehúmus de Teatro (11º trabalho do gru-po), OhAmlet– do Estado de Homens e de Bichos, em que eles mesclam o clássico de  Shakespeare, Hamlet, com a fábula Amlet, do historiador medieval dinamarquês Saxo Grammaticus. Com dramaturgia e encenação de Evil Rebouças e atuação e dramaturgia dos oito atores, o espetáculo recria o mito de Shakespeare para os dias atuais, num tom moderno e próximo da realidade brasileira. A peça é apresentada no Espaço Beta do Sesc Consolação até o final desse mês, sempre às quintas e sextas.
A descontração e o envolvimento com o público é desde o início: os atores cumprimentam e convidam a todos a se sentarem; em seguida oferecem pipoca e começam um diálogo, perguntando sobre os presidentes do Brasil, os que morreram e foram substituídos e em que situação essa alternância de poder se concretizou. Claro que é um aquecimento para a história do povo de Elsinore, que conviveu com a morte do rei e seu irmão assumindo o trono em lugar do jovem Hamlet, filho do rei assassinado.
Com uma trilha sonora criada pelo próprio grupo (com canções desde Ray Conniff, Paralamas do Sucesso até Maquillage) e referências da realidade do Brasil contemporâneo, a história de Shakespeare é retomada em cena. “Ao trabalharmos a partir do mito Hamlet, investigamos o caráter mitológico em diálogo com o tempo presente. Desejamos que o espectador realize um ajuste entre o fato/mito e o momento presente”, explica Evil Rebouças.
Com  ironia e deboche o enredo de Shakespeare é apresentado, só que de maneira jocosa: o trono do rei é uma cadeira de praia, a festividade de coroação dos reis é um carnaval e a briga de Hamlet e a mãe é simbolizada com uma língua de vaca.
No programa da peça, o grupo afirma que não reproduzem “o material dramático e épico criados por Shakespeare e Grammaticus”, mas trabalham a partir do mito Hamlet. Senti por isso que o espectador se envolve com a proposta lúdica da montagem, mas faltam referências ao público da trama da obra clássica. O grande destaque da montagem fica mesmo para a criatividade da Cia Artehúmus — os oito atores são os responsáveis pela dramaturgia, além de criarem figurino, adereços, trilha sonora e iluminação. Se na criação técnica do espetáculo eles arrasam, em cena eles não deixam por menos. A interpretação é visceral e o espectador se encanta com a rotatividade deles na pele dos personagens; alguns deles se revezam, uma hora é o rei, em outra a vítima. Daneil Ortega vive Hamlet quase o tempo todo, no entanto, sua interpretação de Oféilia é o ponto alto do espetáculo. O extenso figurino também merece ser ressaltado: são mais de 100 peças de roupas, a maioria delas recebeu tratamento para envelhecer.
Foto: Margarida Pires

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